Sempre enchi o peito pra dizer, orgulhosa, que nunca me arrependia daquilo que fiz ou do que deixei de fazer nesta minha vida.
Mas não é bem assim. Não posso continuar a mentir a mim mesma. Portanto, eis que chega a hora de uma retratação.
Quase à beira de completar cinquenta e cinco anos, admito que me arrependo dolorosamente de não ter me dedicado à música desde cedo. O meu pai (Ginecologista-Obstetra e, nas horas vagas, amante da música) pagou-me aulas de violão com a melhor professora em Salvador, daquela época, chamada Maria Célia Bahia Monteiro. Embora fosse bastante elogiada pela professora e adorasse o violão, aos quinze anos tinha a minha cabecinha voltada para outros assuntos, para o "Xote das meninas", digamos assim, e só queria e só pensava em namorar. Ai.... que raiva!!!!!!!!
De alguma forma, a vida sempre encontrava um jeito de me colocar junto à música.
Eram os festivais estudantis, eram as serenatas, eram os saraus em casa de amigos... eram sinais, mas passavam apenas como momentos de distração.
Mais tarde ainda, depois de uma desilusão amorosa, frequentando assiduamente a casa da minha irmã, retomamos as reuniões musicais (pois meu cunhado toca violão divinamente e felizmente transmitiu este dom ao meu sobrinho). Foram tantos encontros que acabaram em sessões de gravação. Era tudo muito divertido e o convívio familiar foi extremamente importante para mim e para o meu filho, naquele momento. Como fruto desta época, gravamos um CD e, para nossa surpresa, fez tanto sucesso por onde ele passou que fui incentivada a procurar músicos para cantar na noite. E assim, apareceu na minha frente Horácio Barros Reis (para mim, o melhor violonista sobre a face da terra) que me acompanhou desde 1999 até 2009, quando deixei Salvador para vir morar em Portugal.
Portanto, comecei a "carreira" aos meus 42 anos de idade.
Um dia, em visita à casa de um parente, que primava pela franqueza, escutei dele a seguinte frase: "Ah...mas você começou a cantar muito tarde...!". E eu achei aquilo de muito mau gosto além de cruel. É que não me passava pela cabeça que ele pudesse ter razão. Mas, o pior de tudo é que ele estava certo.
E se eu tivesse dado continuidade às aulas de violão?
Teria começado a cantar ainda menina. Teria a juventude a meu favor. Teria muito mais experiência do que tenho agora. Seria muito mais conhecida do que sou agora. Seria muito mais bem aceita do que sou agora.
"Crime e Castigo".
Meu crime: desprezar algo que me foi dado pelo meu pai que, com sua sebedoria e previdência, sabia o valor que este presente viria a ter em minha vida futura.
Meu castigo: sofrer na pele todas as consequências.
Tenho me batido com estas questões desde que cheguei a Portugal.
Zé, não dava pra você ter nascido em outro lugar? (Embora eu ame Portugal em muitos aspectos).
É que eu vim parar aqui, no país do Fado, onde as pessoas cantam no gogó (sem a necessidade de microfone). E chego eu, com a minha voz miúda, com a minha timidez, sem saber fazer o pino no palco, sem tirar coelhos da cartola no palco, sem saber dançar o Paso Doble enquanto canto, só sabendo oferecer uma voz afinada... e querer ser bem sucedida é viajar na maionese, né não?
Ainda que Zé tivesse nascido na Finlândia, eu continuaria a ter razões pra encher o peito e dizer do meu imenso arrependimento.
Perdão, meu pai! Eu não sabia o que fazia.
Mas não é bem assim. Não posso continuar a mentir a mim mesma. Portanto, eis que chega a hora de uma retratação.
Quase à beira de completar cinquenta e cinco anos, admito que me arrependo dolorosamente de não ter me dedicado à música desde cedo. O meu pai (Ginecologista-Obstetra e, nas horas vagas, amante da música) pagou-me aulas de violão com a melhor professora em Salvador, daquela época, chamada Maria Célia Bahia Monteiro. Embora fosse bastante elogiada pela professora e adorasse o violão, aos quinze anos tinha a minha cabecinha voltada para outros assuntos, para o "Xote das meninas", digamos assim, e só queria e só pensava em namorar. Ai.... que raiva!!!!!!!!
De alguma forma, a vida sempre encontrava um jeito de me colocar junto à música.
Eram os festivais estudantis, eram as serenatas, eram os saraus em casa de amigos... eram sinais, mas passavam apenas como momentos de distração.
Mais tarde ainda, depois de uma desilusão amorosa, frequentando assiduamente a casa da minha irmã, retomamos as reuniões musicais (pois meu cunhado toca violão divinamente e felizmente transmitiu este dom ao meu sobrinho). Foram tantos encontros que acabaram em sessões de gravação. Era tudo muito divertido e o convívio familiar foi extremamente importante para mim e para o meu filho, naquele momento. Como fruto desta época, gravamos um CD e, para nossa surpresa, fez tanto sucesso por onde ele passou que fui incentivada a procurar músicos para cantar na noite. E assim, apareceu na minha frente Horácio Barros Reis (para mim, o melhor violonista sobre a face da terra) que me acompanhou desde 1999 até 2009, quando deixei Salvador para vir morar em Portugal.
Portanto, comecei a "carreira" aos meus 42 anos de idade.
Um dia, em visita à casa de um parente, que primava pela franqueza, escutei dele a seguinte frase: "Ah...mas você começou a cantar muito tarde...!". E eu achei aquilo de muito mau gosto além de cruel. É que não me passava pela cabeça que ele pudesse ter razão. Mas, o pior de tudo é que ele estava certo.
E se eu tivesse dado continuidade às aulas de violão?
Teria começado a cantar ainda menina. Teria a juventude a meu favor. Teria muito mais experiência do que tenho agora. Seria muito mais conhecida do que sou agora. Seria muito mais bem aceita do que sou agora.
"Crime e Castigo".
Meu crime: desprezar algo que me foi dado pelo meu pai que, com sua sebedoria e previdência, sabia o valor que este presente viria a ter em minha vida futura.
Meu castigo: sofrer na pele todas as consequências.
Tenho me batido com estas questões desde que cheguei a Portugal.
Zé, não dava pra você ter nascido em outro lugar? (Embora eu ame Portugal em muitos aspectos).
É que eu vim parar aqui, no país do Fado, onde as pessoas cantam no gogó (sem a necessidade de microfone). E chego eu, com a minha voz miúda, com a minha timidez, sem saber fazer o pino no palco, sem tirar coelhos da cartola no palco, sem saber dançar o Paso Doble enquanto canto, só sabendo oferecer uma voz afinada... e querer ser bem sucedida é viajar na maionese, né não?
Ainda que Zé tivesse nascido na Finlândia, eu continuaria a ter razões pra encher o peito e dizer do meu imenso arrependimento.
Perdão, meu pai! Eu não sabia o que fazia.
3 comentários:
Fico a pensar no que escreveste. Que já li nem sei quantas vezes.
Mas o facto é que agora estás cá, e nos locais onde cantas a tua voz é sempre acarinhada e aplaudida.
Tu tens uma voz linda, AIC. Sei que se o Horácio Reis e o Pedrinho Sergipano estivessem cá haveria todas as noites muito aconchego... da Letícia...
Agora não adianta chorar sobre leite derramado. Prá frente que atrás vem gente!!!
Beijão enorme, AIC+T
Temas recorrentes... Quem não os tem? Eu tenho os meus, tu tens os teus, não é? Todos temos.
Quando os meus vêm à tona, apetece-me falar. Com quem e pra quê?
Então, escrevo, pois assim não encho os ouvidos nem o saco de ninguém. E, dessa, forma, só lê quem desejar. Não é verdade?
Tia Lelete,
Aulas de canto ainda estão disponíveis e com um fator importante, você já canta, é afinada, impostação é treino muscular. Nada que não possa ser trabalhado, se esta é a sua vontade.
Pra mim, adoro o seu som!
Grande beijo,
Ana América
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