segunda-feira, agosto 21, 2006

(F)UTILIDADES

Engraçado como a gente, do nada, se surpreende lembrando de alguém ou de alguma situação. Aconteceu ainda há pouco: lembrei do meu ex (vamos chamá-lo aqui de M) e de como fomos maltratados, numa determinada noite em que saímos para ouvir música ao vivo num barzinho recém inaugurado, aqui em Salvador (era verão de 96 e eu ainda nem sonhava em cantar).
O lugar era super agradável. O responsável pela música era um cara até bem jovem, dono de uma voz linda e de repertório impecável. M e eu estávamos in love. Uma atmosfera romântica nos envolvia e parecia que todas as músicas eram dedicadas a nós dois. Havia magia...luzes de pequenas velas iluminavam o ambiente...jasmineiros plantados em toda volta perfumavam o ar...tudo perfeito, se não fosse a chegada de um grupo que destoava completamente do cenário. Ô gente sem classe! No dicionário deles o vocábulo falar certamente fazia parte de uma língua em desuso - todos eles gritavam entre si. Ô coisa desagradável, meu Deus!!!
M e eu ficamos alguns segundos como que em choque. Afinal fomos retirados a fórceps do nosso doce enlevo. Nos entreolhamos e tácitamente trocamos impressões sobre os invasores bárbaros.
Tentamos retomar o clima, mas já era impossível. Olhei pra M e senti que alguma coisa iria acontecer. Ele estava com o rosto super vermelho. Segurei no braço dele e propus: vamos embora? A noite já deu o que tinha que dar por aqui.
Ele apenas negou com a cabeça. Péssimo sinal.
Um garçon ia passando e M o chamou e disse: Olhe, será que dava pra falar com essas pessoas pra que diminuam a gritaria? A gente quer ouvir a música!!! Por favor!
E o garçon: Vou tentar, senhor.
Percebemos que as outras mesas também estavam se sentindo incomodadas. Imaginem o que sentia o cantor?!
Vários minutos se passaram depois que o tímido garçon se prontificou a falar com os incivilizados clientes - Infrutífera tarefa, diga-se de passagem. E M ia ficando cada vez mais irritado e eu cada vez mais preocupada (M, homem alto, forte, de pavio curto, nunca levava desaforo pra casa e costumava lutar pelos seus direitos). Resumo: confusão na parada indigesta.
Com a desculpa de ir ao banheiro, resolvi, simpaticamente, entabular um papo cabeça com a turma do barulho. Cheguei e disse, num fôlego só: Oi, gente! Tudo beleza com vocês? Gostam de música ao vivo? Esse cantor é ótimo e tão educado...deixa o som na medida certa pra que a gente possa conversar e curtir a música ao mesmo tempo. Se não for pedir demais, será que podiam falar um pouquinho mais baixo....
Curta e grossamente fui cortada pelo seguinte texto: Veja bem, gata, a gente não veio aqui por causa da música p_ _ _ _ nenhuma. A comida daqui é do c_ _ _ _ _ _ , boa pra cacete. Esse é que é o nosso negócio. Música é coisa de viado, boiola. A gente gosta de coisa concreta e não dessas FUTILIDADES, falô?
Saí de fininho, voltei pra mesa. A esta altura M já estava se levantando e vinha em minha direção. Fiz cara de paisagem, pensei rápido e antes que ele procurasse saber o que havia acontecido, saí com essa: imagine que naquela mesa horrível está uma prima de Nelson (vizinho nosso). Ela me reconheceu e pediu uma carona com a gente pra voltar pra casa. É bem aquela ali ó, de voz esganiçada, a que fala mais alto que todo mundo.
Deu certíssimo. M pediu a conta e saimos de lá rapidinho.

12 comentários:

por um fio disse...

Olá Letícia!
Obrigada pela sua visita.
Um beijinho grande.

Leonor disse...

ola leticia.
tiveste a atitude certa na hora certa, rsss
eu tinha deixado acontecer porque nao sou rapida a pensar, rsss
estou a pensar lançar-te um desafio no meu post de sabado: responder a 7 questoes sobre nos, pode ser?
beijinhos da leonoreta

Leticia Gabian disse...

Leonoretta,
Pode desafiar. Só não sei se estarei a altura. Até lá. Abraços.

Leticia Gabian disse...

Travessias, acredite que até de dentro do carro, no estacionamento, dava pra escutar as rudes vozes da barbárie. É mole?!

Anônimo disse...

O seu Ex era feliz ao seu lado e nem sabia.

Pitanga Doce disse...

Pessoas assim também me tiram do sério. Barulho e gente fumando na mesa ao lado enquanto eu janto me deixam danada. Mas você teve jogo de cintura porque a coisa ia ficar preta e aí é que a noite acabava mesmo.
beijinhos pitanga
tô melhorando

Leticia Gabian disse...

Doce pitanguinha,
Quero te ver BEM!
Um beijão pra ti.

Era uma vez um Girassol disse...

História divertida, contada por quem sabe contar...
Letícia, quando se lembrar de mais...tem leitora!!!!! Venho sempre, mas para me divertir venho a correr...
Beijinho

Leticia Gabian disse...

Girassol,
Volte sempre. Um abraço pra ti.

Joshua disse...

Infelizmente há pessoas que não tem maneira de estar…A historia foi excelentemente contada! Um beijo sincero e sem futilidade (“,)

Leticia Gabian disse...

Um abraço pra ti, Joshua.

Leticia Gabian disse...

Hera,
teve isso, foi? nem reparei. Mas,é melhor namorar com um mais discreto e que fale as coisas certas, baixinho, no ouvido. É ou não é?