Foto retirada da net
Ela acordou quase uma hora antes do despertador e de tão ansiosa nem tomou o pequeno almoço. Era o seu primeiro dia no novo emprego. Vestiu-se sobriamente, maquiou-se levemente e saiu voando.
Já instalada em sua mesa de trabalho, ficou a pensar o que faria para personalizar o ambiente, deixar ali a sua marca... Colocar, talvez, um anjinho em cima do móvel de arquivos, ou, quem sabe, uma plantinha em cima do aparador, ou até.... Mas, eis que o telefone toca.
- Escritório do Dr. Assis, bom dia!
- Bom dia, querida! Está bem instalada? A sala é boa pra você? Alguma coisa está te faltando? Diga tudo, não me esconda NADA!
- Ah... Desculpe, mas quem é mesmo que está falando, por favor?
- Vai dizer que não sabe? Tolinha!
- O senhor me desculpe, mas é que.......
- Minha querida, deve estar cheia de coisas pra fazer, eu ligo mais tarde então. Uma bitoquinha!
- Mas...
E a ligação foi encerrada.
Ela ficou parada, sem reação, por alguns bons segundos. Deus do céu! Quem teria sido aquela figura? Certamente tinha telefonado pra um número errado, sim, era isso, apenas um engano de números. E se pôs a conhecer o ambiente, a organizar uns papéis, a fazer o café... E é quando o telefone toca, outra vez. Ela fica ali a olhar para o aparelho, com a tímida esperança de que não fosse o mesmo sujeito... Mas era sim.
- Escritó...
- Sou eu, florzinha! O seu querido. Estava morrendo de saudade, tava, não tava?
- Meu senhor, por favor, não vê que está a ligar pra um número errado? Não nos conhecemos...
- Hummm... Adoro quando me chama de “meu senhor”.... Adoro!
- Ai, que eu já estou a perder a paciência!!!
-Perde, perde sim, perde o juízo também, perde o pudor, perde TUDO!!!!!
- Senhor, eu vou desligar!
E desliga na cara do cidadão.
Mal desligou, o danado chamou outra vez. Ela olhou pra um lado, olhou pro outro e num único movimento desconectou o fio do telefone. Pronto! Agora, por um bom tempo, o maluco ia ficar de molho e ia desistir dela. Pensou.
Recobrando a calma, lembrou que o patrão lhe tinha pedido para checar a caixa de e-mails. Foi até o computador, sentou-se, respirou fundo e pensou que agora iria, realmente, iniciar as atividades do escritório. A caixa de entrada não estava cheia. Ao abrir o último mail da lista, qual não foi a sua surpresa? Era pra ela. E era dele. Assinava como Antonio.
E escrevia como nunca tinham escrito pra ela.
Eram palavras tão lindas, era quase uma poesia. Chegou a perder-se em devaneios quando despertou com o som da sua própria voz: mas que raio de Antonio será esse?! (Será o Banderas, ou o Fagundes? Olha que tanto fazia um ou outro, ela era doida neles dois mesmo!)
E foram chegando mails e mails e mais mails . Todos apaixonantes. No último, ele a convidava para jantar. Ia mandar-lhe um presente. Impressionante como ele a conhecia tão bem, sabia de tudo sobre ela. Era como se lesse os seus pensamentos.
Ao fim do dia foram mais de duzentos telefonemas e mais de quinhentas mensagens. Ela já estava apaixonada!
Faltando dez minutos para o fim do expediente, chega uma caixa enorme com uma flor e um bilhete onde dizia: uma flor para uma flor – Quero-te assim.... Linda... Só pra mim.
E dentro da caixa um estonteante vestido vermelho e um par de sapatos forrados do mesmo tecido. Ela achou um charme! Afinal, era a sua cor preferida.
O encontro estava marcado. Ele ia ligar, quando ela já estivesse pronta, pra dizer qual seria o restaurante.... Era mesmo a noite dos sonhos dela. E ela nem tencionava acordar.
Pronto. Chegou a hora. Apagou as luzes da sala, trancou a porta e saiu em disparada até o elevador. Já tinha se trocado e como lhe caía bem o vermelho... Modéstia à parte (pensou).
Chegou à garagem, entrou no carro, deu a partida. Assim que saiu do prédio, começou a cair a maior chuva. Pelo rádio do carro ouvia as recomendações para que não se saísse de casa, pois caía um verdadeiro dilúvio. E era mesmo assim. O limpador de pára-brisa não dava vencimento. Nada se podia enxergar. Só lhe restou estacionar e ficar a olhar o mundo cair sobre a sua cabeça, em forma de temporal.
De repente, toca o telemóvel. O coração dela disparou. Seria ele?
- Antonio, é você?
- Não, não. Mas ele pediu pra te dizer que o dia dele já passou e que não vai poder te encontrar. Quem fala aqui é o Pedro.
Então, tudo se fez claro.... Chovia aos borbotões... O dia era 29 de junho e quem lhe falava era Pedro, o pai de todos os aguaceiros...
"Quem conta um conto, aumenta um ponto”
“Quem gostou dessa história, que me conte outra”