De madrugada, mais uma vez com dificuldade pra conciliar o sono, acabei por passar num sítio ao qual tenho evitado ir já há bastante tempo, por razões mais do que óbvias. Por uma dessas “engraçadas” coincidências, encontro postado o seguinte texto:
Lógico que é um texto escrito por pessoa sem o devido conhecimento, mas o fato é que veio servir como pano de fundo para o assunto preferido daqueles que carregam a pecha do preconceito.
Os comentários a seguir versaram sobre as brasileiras, denominadas como “as que andam por aí”. Como subtexto, ouso acrescentar: “as que andam por aí atrás dos nossos namorados, noivos e maridos”. Uma vez que há uma interminável lista de mulheres insatisfeitas com a presença das prostitutas brasileiras em solo lusitano.
Tal insatisfação, por sua vez, não passa (também) de pano de fundo para a xenofobia reinante, mais precisamente, a tupiniquimfobia (termo criado hoje por mim para denominar o ódio, o asco, o medo, a insegurança, enfim, inúmeros sentimentos menores dirigidos aos brasileiros, em geral).
Estas pessoas devem achar que são mágicas ao ponto de conseguirem apagar séculos de história. Então, que direito tem qualquer cidadão português de rechaçar estrangeiros provenientes das ex-colônias de Portugal (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Timor e Macau?). Não dá pra esquecer que foi Portugal que saiu por aí a invadir, saquear, esvaziar outros sítios em nome da Coroa. Do Brasil foram retirados inúmeros carregamentos de Pau-Brasil, sem falar no nosso ouro e outras riquezas. Não dá pra esquecer que foram navios portugueses que transportaram para o Brasil milhões de escravos negros (assim foi introduzida a cor escarlate (de sangue) num país antes cheio de verde e de mar). Não dá pra esquecer que a prostituição começou quando as nossas índias e negras foram obrigadas a se deitar com os portugueses-patrões-feitores-senhores de engenho.
Não me calo e nunca me calarei diante de qualquer situação na qual exista este tipo de preconceito. É inaceitável, é irracional, é algo fruto de uma ignorância bem maior que a daquela pessoa que escreveu esse texto infeliz.
Apesar de tudo, somos um povo hospitaleiro, principalmente (e veja só que ironia!) quando acolhemos portugueses. Somos a mistura de vários povos. Não somos perfeitos... Ai que chatice querer ser assim! Por sorte, não herdamos o temperamento amargo, rancoroso e sofredor do povo português. Por isso, não damos lugar para sentimentos de tal ordem.
Como prova de que não guardo rancores, amo um português, com ele vou casar e viver em Lisboa (até que possamos voltar a viver em minha terra natal Salvador-Bahia- Brasil -América do Sul-Terceiro Mundo... “pois terra mais linda não há”).
O tapete vermelho da foto acima deveria ser estendido quando da chegada, em solo português, de qualquer estrangeiro proveniente dos sítios onde aconteceram atos predatórios por parte do seu povo.
E (agora sendo muito mázinha) muitos daqueles que fazem parte da população masculina portuguesa, certamente, iriam emprestar seus braços para tal empreitada (E com muito gosto).
27 comentários:
Letícia, minha querida
Antes de mais, nao precisa pedir licença ou desculpa para expressar o que lhe vai no pensamento e alma. Estamos num país livre !! ;)
O texto que escolheste como introduçao a um outro tema, eu já o conheço há bastante tempo. A proveniência original será de um panfleto promocional americano, mas a quantidade de imprecissoes que tem sobre a realidade dos factos é assustadora.
Pior é o facto de ter sido publicada na imprensa, deixando muitos aqui em terras lusas assustados com os erros, geográficos e nao só facilmente confirmáveis.
Quanto ao seu desabafo, nao sei em que site ou blogue você encontrou tais comentários, de facto existe por aqui muita gente com o mesmo pensamento descrito por você.
Minha querida, sabemos as duas que nao há cenários perfeitos, nem que o justo pode pagar pelo pecador !!
Bom mesmo que você saiba .... têm muita gente aqui pensando simplesmente o oposto !! ;)
Uma beijoca grande
Carol,
Tive a sorte de conhecer muita gente boa, aí em Portugal. Pra minha felicidade, atraí à minha volta pessoas sensíveis de alma, sensatas de cabeça e possuidoras de imensos corações.
Fazes parte deste feliz grupo junto a todos os amigos da Taverna, além da Maroca e muitos outros.
Beijo grande grande pra ti
Não imaginava que alguém ainda pudesse ter esta ideia de Portugal. De facto vç só consegue ver pontos negativos no relacionamento Brasil/Portugal esuqecendo as coisas boas que os Portugueses levaram para o Brasil.
Apesar de tudo parabéns pelo blog.
www.blogdojoseramalho.blogspot.com
Outros tempos, os mesmos preconceitos do passado, minha amiga.
De qualquer forma, não acredito que o "artigo" tenha sido escrito por um português, ou alguém a viver no país. É claro que existe racismo. A insegurança provocada pela crise social é condutora de pensamentos xenofobos.
Não estou a ignorar movimentos como as "mães de Bragança" ou outros, mas sei que são minoritários e que não expressam o pensamento, quer político, quer económico ou social deste país.
Nós proprios, povo emigrante, tambem sentimos na pele a exclusão, nos ghuetos dos "bidonville" dos anos 60 em França, na Alemanha ou na Bélgica.
Fruta podre sempre tem, até no mais belo pomar, não é?
Para mim há homens e mulheres.
Serão todos bons, até que me provem o contrário.
Não ponho "rótulos" de preto, amarelo, branco, brasileiro, moldavo ou outro qualquer.
Não ofendo, maltrato ou ignoro quem é diferente de mim (não seremos todos diferentes, uns dos outros?)
Mas também não carrego o fardo da culpa que viajou nas caravelas.
Um beijo Luso nesse teu coração Tupi.
Xenofobia sempre houve e haverá, em todos os povos, pode nascer com a pessoa ou ser adquirida à custa da educação ou da vida, no entanto parece-me um grande exagero pensar que é uma caracteristica do povo português. Muitas vezes damos conta que os povos de outras linguas de outras cores, de outras origens que vivem em Portugal são ele próprios racistas em relação aos portugueses. Tudo isto são casos esporádicos, na realidade a maioria dos Portugueses não têm esse tipo de atitude.
Beijo grande
José Ramalho,
Não sou uma pessoa leviana. Escrevi este post por sentir o preconceito na pele, além de estar cansada de ler sobre o assunto em vários blogs.
Iniciei o meu texto pedindo licença aos portugueses, embora eu aceite escutar qualquer comentário verdadeiro sobre o Brasil, uma vez que conheço todas as facetas do meu país, tanto as boas quanto as muito más.
Ao contrário do que possa parecer, não vivo do passado. Apenas não posso ignorá-lo por não o ter vivido. Precisei invocá-lo para tentar "acordar" determinadas pessoas (mesmo sabendo tratar-se de uma tentativa debalde).
O passado fica onde está. Alguns o visitam, outros o ignoram.
Não tenho uma visão maniqueísta das coisas... Em tudo residem o bem e o mal.
Só não posso me calar quando me pisam nos calos. Não tenho este temperamento.
"Não imaginava que alguém ainda pudesse ter esta ideia de Portugal." E eu não imaginava que fosse encontrar o absurdo preconceito que encontrei.
Obrigada pela visita
Zé Manel,
Este texto infeliz, intitulado "Lisboa em ascenção turística", segundo consta, foi escrito por um Brasileiro, natural de Maceió, Estado do Alagoas, Nordeste do país. Bem... Que este pobre coitado queira escrever um texto recheado de equívocos, enganos e erros, é problema dele.
Falta de cultura e ignorância não são "privilégios" exclusivos do povo brasileiro.
O que me incomoda é ver este texto servir como mote para um desfiar de comentários imbuídos de preconceito.
"Para mim há homens e mulheres.
Serão todos bons, até que me provem o contrário."
Assim penso e assim direciono a minha vida.
"Mas também não carrego o fardo da culpa que viajou nas caravelas."
Também não carrego rancor, apenas não posso deixar que caia no esquecimento. Acredito que tal lembrança sirva para o crescimento pessoal, para que o sentimento de superioridade racial (e geográfico, até) caia por terra.
Como falei antes, tenho um bom radar e consigo me aproximar de gente GENTE, como ZM e todos da turma.
Beijo grande
A Concorrência,
A xenofobia é uma característica que vem aparecendo bastante entre o povo português. Pois se eu, uma mulher aos 51 anos, fora da faixa etária propícia às "que andam por aí", sou vítima dela!
Torço, de coração, que a mioria do povo português (como diz) não seja atingida por este mal.
Beijo grande grande
"Bai ao Pitanga se faxfavori".
beijinhos
Estará tudo dito aqui, Amiga-Irmã.
Peço desculpa em nome dos ignorantes, e sei tão bem do que falas...
Beijão enorme
É muito bom saber que me entendes, Maroca! Não duvidava disto.
Só não devo generalizar e nem posso, pois em Portugal há muita gente de verdade que é como tu e os meus outros amigos, gente de bem com a vida, com o mundo, com o particular e com o coletivo. Gente, cujo umbigo é o mundo.
Beijo enorme, amiga-irmã!
Querida Leticia
Se me permite, não pode olhar para a arvore como se duma floresta se tratasse. Os brasileiros devem muito a Portugal. Acha esta frase um exagero? Talvez seja mas é verdade. Quando os portuguese chegaram ao Brasil em 1500 levaram muita coisa que era desconhecida por esses povos e naturalmente foram cometidos muitos erros. Erros da própria história e que têm que vistos no contexto da própria história. Hoje os brasileiros contam anedotas "mazinhas" sobre os portugueses, mas isso nunca importou verdadeiramnte nenhum dos povos. Em Portugal assiste-se neste momento a um aumento da criminalidade violenta, quase sempre exercida por brasileiros. Isso faz do povo brasileiro um povo violento e criminoso? Não. Claro que não. Temos que ver as árvores e depois conseguimos ver a floresta.
Sabe os preconceitos, de que fala, por vezes, só existem na nossa cabeça.
Tenha um bom dia.
José Ramalho,
Quanto aos fatos relativos ao descobrimento do Brasil e aos tempos que se seguiram, acredito que os registros encontrados em Portugal sejam bem diferentes da realidade. Até mesmo aqui, por muito tempo, o que era ensinado nas escolas sobre o assunto, vinha embrulhado em papel cor-de-rosa. Graças a historiadores sérios e bem empenhados, isto começou a mudar.
Sendo bastante simplista e sem querer mais alongar esta conversa, digo-lhe que o que o Brasil deve a Portugal é muito pouco.
As anedotas passeiam em via de mão dupla... Nós rimos de vocês e vocês de nós... Estamos quites.
Ao contrário de você, consigo ter uma visão crítica do meu próprio país. Em algumas regiões, e até mesmo cidades, há muita criminalidade e violência, sim.
Não tenho vocação para "Poliana". Enxergo as coisas como realmente são.
Já saiu de Portugal para passar uma temporada em outro país? Foi bem recebido e tratado com respeito? Sim? Quanta sorte! Sorte que eu não tive (e outras pessoas que conheço, também não) no seu país. E olhe que tenho o dedo do pé em Portugal (já que sou bisneta de portugueses) Imagina como é com quem não tem nem a pontinha da unha?
O preconceito não está em minha cabeça (infelizmente), meu caro senhor... Eu o senti e o sinto na pele.
Tenha um bom dia, também
A culpa de tudo isto é da Insónia!
Querida e Misteriosa Lua,
Era tão bom se fosse...!
Beijo grande pra ti!
Querida Letícia
Desculpa, mas tive que voltar a este post, depois de ler outros por aí.
Dizia a minha avó que "quem não se sente não é filho de boa gente". E é completamente verdade, por isso eu sei o que sentes, porque também o sinto.
A História que a gente aprende aqui é o que querem que a gente aprenda.
Os (poucos) dias que estive em Cachoeira (e não só) deu para entender que há uma OUTRA História, a escrita com o sangue e suor dos escravos e dos indígenas. Essa é a verdadeira História.
Não vou aqui relatar tudo quanto aprendi aí. Basta querer conhecer um país e as suas gentes, logo a sua História, para podermos distinguir uma coisa de outra coisa. Assim mesmo.
Lembrei-me agora de repente que conheço gente que diz conhecer Cuba, e que apenas fica um dia em Havana e o resto do tempo de papo para o ar em Varadero.
Isto não é conhecer Cuba porra nenhuma. Conhecer Cuba, ou qualquer outro país, é misturar-se com as gentes desse país, comer e beber o que comem e bebem as gentes desse país, é meter-se nos bairros pobres (ou ricos) e conversar com o povvo desse país.
Eu tive a sorte de ter excelente guia no Recife, quando lá estive, e onde contactei os "sem terra". Já tinha ouvido falar deles. Já conhecia a história deles. Já tinha visto fotografias do Sebastião Salgado, já tinha lido livros. Nada foi com parável com o contacto directo que tive com eles, muito menos com as conversas que tivemos, e jamais esquecerei os dois meninos de camiseta vestidos.
Em Salvador, das duas vezes que por aí andei, tive a sorte de ter pessoas amigas interessadas em me mostrarem o mais bonito de Salvador e também o menos bonito. Onde tudo se mistura. Onde tudo é gente. Onde somos todos iguais.
Se eu deixasse fluir na escrita o que me vai na cabeça não saía daqui hoje. E eu quero sair...
Vou deixar-te, por agora, voltando a pedir-te DESCULPA por tudo o que li por aí, e por acolá, e que NÃO traduz o sentimento de um povo acolhedor como é o meu, quase quase tão acolhedor como o teu...
Um beijão enorme, Amiga-irmã
Devo confessar que fiquei estupefacto ao ler o seu post...
Conheço a noticia que refere há muito tempo. É de tal forma grosseira e imprecisa que...passo adiante. Acrescento que, fácil é falar do que os Portugueses "roubaram" no Brasil, dificil é lembrar o que fizeram os Holandeses (e não só...). Já Estive algumas vezes no Brasil e pude constactar do amor e desamor que os Brasileiros têm pelos Portugueses, no entanto, é grato verificar que a maioria dos Brasileiros que veio para Portugal, não pensa em regressar. Porque será? Se tiver interesse, procure no meu blog e leia "Esta coisa de ser Português...".
Vai daqui um abraço Português de quem não renega a pátria e está bem consciente do que foi o passado lusitano.
Maroca,
Se tivesse eu outro temperamento, poderia até dizer que me arrependi de ter colocado este post no ar. Está sendo mesmo muita conversa jogada fora. Mas, não sou de me calar nem de me encolher quando sinto, tanto em minha própria pele quanto na de outros, a ardência causada pela discriminação, pelo preconceito, pela exclusão. Aos 51 anos, creio que já não mudo e nem o desejo fazer.
Fica o post como um desabafo e apenas isto, uma vez que aqueles que desconhecem a história, assim irão continuar. Uma vez que todo aquele portador da pecha do preconceito, e tudo mais que o envolve,(infelizmente) assim irá continuar.
Não vou me dar ao trabalho de responder a mais nenhum comentário, a partir de agora. Não cabe a mim a terefa de ensinar ninguém a ser gente, pois já fico todas as horas do meu dia a lutar por não embrutecer.
Beijo grande, querida amiga-irmã
Viche menina, arre égua, ADOREIIIIIIIIIIIII. Botou para quebrar, não sei se sabes mais sou casada com um português, apesar de nunca ter ido lá,gosto de Portugal mas amo o meu BRASIL, meu não NOSSO. Beijos
Vera, querida!
Amo o nosso Brasil e gosto muito de Portugal... É um país lindo! Nunca foi lá?! Certamente iria gostar tanto quanto eu. Não sabia que você era casada com um tuga. Eu sou, com o meu tuga Zé.
É mesmo um país lindo, só que tem uma parte do seu povo que não combina com tanta beleza. Mas, é isso aí...!
Beijo grande (também no seu tuga)
Que onda braba é essa minha Cumadi?
E pode isso, é? Ai Jesus o que será de lá eu que quer uma tuga? kkkkkkkkkkk
Francamente é melhor nem comentar!
bjs
O Sibarita
Cumpadi,
No comments!
Este post já deu o que tinha que dar. Se desejar, eu te conto tudinho. Liga pra mim.
Beijo grande
Letícia
Faço minhas as suas palavras. Tenho muitos amigos em Portugal. Porém, sendo Angolana de origem e Brasileira de naturalização, sei bem o que fala. Há sim xenofobia em Portugal, país que considero acolhedor. Mas a xenofobia é tão grande que muita gente acha que precisa soletrar para falar conosco. Minhas amigas não acreditavam, até estar presentes a algumas dessas lindas cenas.
E somos sim consideradas destruidoras de lares.
Para o senhor que diz que a maioria dos crimes cometidos em Portugal é de brasileiros, devo dizer que a maioria da ênfase dada aos crimes cometidos, por parte da mídia, é mesmo quando algum é cometido por brasileiros. E os Ahs e Ohs não acabam mais.
Estando num dos elétricos em Lisboa, em conversa amena com dois brasileiros, ouviu-se um grito de assalto. O elétrico foi parado até a chegada da polícia. Fomos encarados como os ladrões e olhados de tal forma que paramos de conversar entre nós.
E, ah, oh, era bem português o batedor de carteiras que tinha limpado a bolsa da senhora em questão.
Só para ilustrar porque histórias, ou estórias, tem muitas.
A humildade de reconhecer que algo vai mal existe entre o povo brasileiro. Mas fico sempre com a sensação de que não foi herdada do povo português.
Em tempo, uma parte dos meus ancestrais é desse lindo país à beira mar plantado.
Um grande abraço pra ti, MJ, e que a vida te seja generosa colocando em seus caminhos pessoas e situações que só te façam crescer como gente. Afinal, creio ser esta a grande aspiração do ser humano.
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