Acompanhada de um violonista, bem no início da minha carreira, fiz um show em comemoração ao aniversário de uma jovem senhora. A casa era enorme e bonita, num bairro chique aqui de Salvador. Começamos e, muito antes de chegarmos ao primeiro intervalo, aproximou-se um cambaleante senhor me interrompendo bem no meio de uma música: Você canta "Perfídia", minha filha? (Note que o cambaleante não se justifica apenas pela idade avançada, mas pelo goró que era vertido freneticamente).
Situação! Não sabia se continuava, se parava, se respondia. E o senhor inssistia: "Perfídia", "Perfídia", você canta ela? "Perfídia"?
Saída pela esquerda!!! Olhei pro violão e perguntei com as sombrancelhas se dava pra ele tocar sem que eu precisasse cantar. Resposta: não.
Ô mato sem cachorro, danado!
Olhei para o senhor, sorri amarelo e deixei ele entender do jeito dele. Continuamos a função. Dali uns dez minutos, lá vem o cara de novo entoando a mesma ladainha. Olhei em redor buscando um socorro de uma esposa, uma filha, filho... um neto, quem sabe. Ninguém me socorreu. Resolvi responder com o clássico a música é linda mas, infelizmente, não foi preparada para esta noite. O velhinho se indignou: Não canta "Perfídia"? Ah, vai cantar, mas vai cantar mesmo!!! E se dirigindo aos demais: Onde já se viu uma coisa dessas? E voltando para sua mesa arrematou: hoje ninguém sai daqui sem cantar "Perrrrrrrrfídia"!!!
Tentei dar seguimento e ignorar o personagem, mas era impossível. A mesa dele era a mais próxima da gente. Meu olho teimava em focalizar o velhinho que não parava de me encarar. Já viu só que saia justa, meu Deus? Só quem passou por isso é que sabe!!!!
Lá pras tantas, depois de várias investidas e ameaças, o velhinho resolveu cantar com todo o gogó, dali mesmo da mesa onde estava sentado. A concorrência era ingrata demais. Finalmente, surge uma boa alma que consegue, aos trancos e barrancos, retirar do recinto o velhinho subversor.
Pra quem não conhece, "Perfídia" é um boleraço das antigas e, ironicamente, significa: Ação pérfida; deslealdade; falsidade; traição.
6 comentários:
Tenta enxergar pelo lado bom. Felizmente ele não insistiu para que você cantasse "Garçon", Reginaldo Rossi. Já pensou?!
Não sabia desse seu lado Boldriniano de contar "causos". M embolei de rir.
Muito legal. super engraçada esse acontecimento. Divertidíssimo.
Abraço.
Para Hera:
Será que foi o seu tio? Mas não é o Tio Dindo maravilhoso não né?!
Aff Maria... ainda bem que Nelson não estava nesse mesmo recinto senão, provavelmente, daria total apoio ao veínho e aí, sim, você ia ver o que é bom...
Beijos!
Para Liana:
Aff Maria! Nem pensar! Eu tava lenhadia!!!!!
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