sexta-feira, junho 30, 2006

Perfídia de bebum

Acompanhada de um violonista, bem no início da minha carreira, fiz um show em comemoração ao aniversário de uma jovem senhora. A casa era enorme e bonita, num bairro chique aqui de Salvador. Começamos e, muito antes de chegarmos ao primeiro intervalo, aproximou-se um cambaleante senhor me interrompendo bem no meio de uma música: Você canta "Perfídia", minha filha? (Note que o cambaleante não se justifica apenas pela idade avançada, mas pelo goró que era vertido freneticamente).
Situação! Não sabia se continuava, se parava, se respondia. E o senhor inssistia: "Perfídia", "Perfídia", você canta ela? "Perfídia"?
Saída pela esquerda!!! Olhei pro violão e perguntei com as sombrancelhas se dava pra ele tocar sem que eu precisasse cantar. Resposta: não.
Ô mato sem cachorro, danado!
Olhei para o senhor, sorri amarelo e deixei ele entender do jeito dele. Continuamos a função. Dali uns dez minutos, lá vem o cara de novo entoando a mesma ladainha. Olhei em redor buscando um socorro de uma esposa, uma filha, filho... um neto, quem sabe. Ninguém me socorreu. Resolvi responder com o clássico a música é linda mas, infelizmente, não foi preparada para esta noite. O velhinho se indignou: Não canta "Perfídia"? Ah, vai cantar, mas vai cantar mesmo!!! E se dirigindo aos demais: Onde já se viu uma coisa dessas? E voltando para sua mesa arrematou: hoje ninguém sai daqui sem cantar "Perrrrrrrrfídia"!!!
Tentei dar seguimento e ignorar o personagem, mas era impossível. A mesa dele era a mais próxima da gente. Meu olho teimava em focalizar o velhinho que não parava de me encarar. Já viu só que saia justa, meu Deus? Só quem passou por isso é que sabe!!!!
Lá pras tantas, depois de várias investidas e ameaças, o velhinho resolveu cantar com todo o gogó, dali mesmo da mesa onde estava sentado. A concorrência era ingrata demais. Finalmente, surge uma boa alma que consegue, aos trancos e barrancos, retirar do recinto o velhinho subversor.
Pra quem não conhece, "Perfídia" é um boleraço das antigas e, ironicamente, significa: Ação pérfida; deslealdade; falsidade; traição.

6 comentários:

Senna disse...

Tenta enxergar pelo lado bom. Felizmente ele não insistiu para que você cantasse "Garçon", Reginaldo Rossi. Já pensou?!

Anônimo disse...

Não sabia desse seu lado Boldriniano de contar "causos". M embolei de rir.

Anônimo disse...

Muito legal. super engraçada esse acontecimento. Divertidíssimo.
Abraço.

Leticia Gabian disse...

Para Hera:

Será que foi o seu tio? Mas não é o Tio Dindo maravilhoso não né?!

Anônimo disse...

Aff Maria... ainda bem que Nelson não estava nesse mesmo recinto senão, provavelmente, daria total apoio ao veínho e aí, sim, você ia ver o que é bom...
Beijos!

Leticia Gabian disse...

Para Liana:

Aff Maria! Nem pensar! Eu tava lenhadia!!!!!